domingo, 31 de julho de 2011

Com Cream Cheese

Nos ladrilhos brancos do banheiro, o cheiro artificial da camisinha de morango exala como droga. Seu pacote semi-aberto no chão me leva a pisar com a ponta dos pés e por pouco não regurgito todo o meu desjejum. Vou deixar a água correr, enrolar meu corpo nas toalhas de talco e morrer com chocolate; ele há de não me engravidar.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

E só

Fizemos um pacto com o Sol, é verdade. Agora olhe para ele e lembre-se de nós, tenha em mente que somos sinônimos, semelhantes e dependentes. O Sol não é nada sem nossa companhia, assim como olhar para a gente faz-te desejar Sol.
É assim, como nos filmes realmente, porque os dias são gravações dos sentimentos. E agora tudo o que você quer é Sol, piscina, uma leve brisa reconfortante e nós. Exatamente, você está pensando em nossa especial companhia. Se por algum acaso estivermos enganados, apenas deixe o relógio girar e aguarde toda a saudade louca que deixamos; depois corra e nos procure. Buscamos sempre estar o mais acessível a você, não se preocupe.
Com carinho, sua bebida favorita.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Só imagina

Imagina uma praia, de águas claras, espuma branca; fria. Imagina o vento batendo de frente, levando a areia. Imagina o cabelo, dançando nos ares, fazendo nó. Imagina os pensamentos, voando junto, pra bem longe. Imagina o caminhar, de tênis, calça e casaco, na direção do imaginário. Imagina a confusão, da minha cabeça, do meu corpo, do meu eu.
Bombinhas, Brasil
10/ 07/ 2011

domingo, 24 de julho de 2011

O presente é a idade

Eu. Velha com corpo de jovem, ou jovem com corpo de velha, já não sei ao certo. Via as folhas brincando no canteiro de obras, ai como doem minhas costas. O vento batia forte, cortando os raios de Sol que apareciam na rua. Mas minhas pernas não aguentam mais caminhar. Vou até o vizinho, ele está cuidando do jardim. Que vontade eu tenho de poder me abaixar que nem ele; não consigo mais. Os desenhos das crianças ainda estão nas portas, e eu sinto falta de quando meus braços não doíam. Até o modo de falar, as reclamações o tempo todo. Parece que os anos correram rápido demais. Vou comer. É o que as velhas mais gostam de fazer. Cozinhar e comer. Engordar. Vovó gordinha é sempre mais gostoso de abraçar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Meu Monstro

Eu sinto alguém perto de mim, mas não posso ver. Quando olho pra parede, ele move de lugar. Ouço algo na janela, como asas contra o vidro.
Hoje é noite de lua cheia, os lobos uivam enfurecidamente. Meu sangue ferve e meu coração quase salta. Sinto um arrepio. Medo da morte, do sofrimento. O que eu posso fazer? Tão sozinha e temerosa. Pra que lutar? E se eu morrer? O que os outros vão dizer?