sexta-feira, 29 de abril de 2011

Comboios

Fico tonta com o número de vezes que a catraca gira, a quantidade de tombos que levo e a abundância de pessoas que entram no forno; só querendo chegar a suas casas. Aperto-me contra a parede, busco uma janela pra respirar e quase caio.
Eu atravesso a cidade naqueles carros fedidos lotados de gente, só pra ver quem amo. Se não te agrada essa ideia, sinto muito, continue em casa, sozinha, e me espere no sofá; voltarei, talvez.

sábado, 23 de abril de 2011

Alva

O dia ainda está amanhecendo; ainda é cedo, mas já está tarde. As grossas nuvens cobrem o céu e quase tocam os telhados barrocos, o mato se apagou, a grama não brilha e as pedras não estão quentes. Os pássaros que cantam; não os vejo, e por toda parte o silêncio tomou conta.
Estranho eu ter levantado, e ainda mais estranho meus pensamentos estarem vazios a ponto de eu observar o ar calmo que pende esta manhã. Obrigada por me dar folga, ao menos hoje.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Desaperta o sutiã

Tire as mãos do peito, solte o coração, grite à Lua e chame os astronautas. Vamos passar uns dias lá em casa, eu, você e eles; fumando o vento e bebendo a chuva.
Mesmo que E.T s precisem me explicar os planetas e as galáxias, não há ninguém que vá me fazer apagar os faróis do fusquinha anos 50 enquanto atravesso os roseirais do meu quintal. Talvez devêssemos arrumar alguma diversão para nossos novos companheiros, a menos que sejam como mistura de bolo antes de ir ao forno. Afinal, sou apenas uma, sou apenas sua. O que os vizinhos pensariam ao ver-me rindo do nada? Picharemos então, na porta da frente, anunciando nossa viagem de carro pelos fundos da casa, informando-os que quatro letras fazem sim a diferença quando dias abandonados se unem. Está decidido; grite à Lua, chame os astronautas, meu amor.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O ato de censurar

Na fria madrugada da noite, me cego de orgias e mares, de areias e peixes, que deixam livre seu sêmen nas águas escuras da eternidade perdida.
Teus glúteos na áspera parede de pedras me enfraquecem os gestos e envolvem o corpo. Na lua que geme, meus pensamentos ficaram, e antes tarde do que nunca, pássaros cobriram os gritos da doce dor do amor.
Na cabeça de baixo do mundo, a cobra que pela floresta rasteja com sua língua de duas faces, nos lábios se adentra novamente, tornando um novo indivíduo; aquele que são dois encaixados.

domingo, 10 de abril de 2011

Não quero dizer adeus

Havia tempo que eu não precisava de música alta para dormir, mas só agora me dou conta que o mundo gira cada vez mais rápido. E a partir de hoje, pelo visto, seremos apenas eu e eu mesma, deitadas na cama vazia, pedindo abraços quentes de inverno.
Escrevo no escuro, à luz do pequeno isqueiro que sempre fez duvidarem minha identidade. No meio da escuridão, tudo o que vejo são palavras imaginarias; tudo o que sinto são as gotas da torneira dos olhos que me esqueci de fechar.
Havia tempo que eu não me sentia tão assim, tão distante de todos. Pareço ser uma pedra de gelo, esfriando tudo à minha volta. Escute bem, tudo o que digo é verdade, não me venha falar que minto o que sinto; sei bem o que estou dizendo.
A, quer saber, quando acordar com os olhos vermelhos amanhã, talvez fique mais fácil de reescrever tudo isso.
Boa noite, pesadelos me esperam, preciso ir.

sábado, 9 de abril de 2011

Motivo de conquista

Alegre com um bem-te-vi, que brinca na boca de um leão de mármore. Alegre porque bem te vi, e brincastes com a boca de um leão sozinho.
“Coragem, mostras coragem e segurança para enfrentar os medos, docemente roubando os sentidos que lhes foi atribuído, e, tocando-me profundamente, espantando os temores e trazendo o desejo.
O desejo que me faz querer. Querer-te perto de mim. Quero-te perto de mim. Ontem, hoje e amanhã, para sentir teu toque, para te ver sorrir e entre os beijos, os abraços e os arrepios, dizer que eu amo você’’ – Como bem disse um querido Théo, que passava nas ruas de uma sala de aula.

sábado, 2 de abril de 2011

Ilusões Passadas

Ainda sou uma menina; imatura e dependente, sensível a qualquer voz doce que venha no pé do ouvido. Um beijo no pescoço e cairei das nuvens, por causa apenas, da gravidade. Venha! A gente gela algumas cervejas, coloca amendoim nos potinhos da mamãe e olhar pras estrelas deitados na laje da minha casa. Eu faço isso, eu faço tudo pra ter alguém aqui comigo. Nem que eu sofra mais do que ria. Eu quero jurar amor a alguém maior que um reflexo destorcido.
Despir-me-ei e deitarei em alguma cama fria, procurando o calor que contradirá o que disse.