Eu queria transformar em palavras
e te contar. Seria bom se você soubesse. Seria melhor, mas não pra nós. Isso
tem me consumido, me matado aos poucos, e não conheço morte sentimental pior do
que essa. Olhar pros lados, seguir em frente ou mesmo voltar atrás; eu
enlouqueço, giro e caio chorando na cama. Isso, que muitos chamam de ciúme, eu
prefiro não dar nome. Pra mim é coisa de maluco.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Pura e simplesmente, na forma mais confusa
- Invejo seu coração.
- Ele bate por você – pensei. Devo ter corado. Por alguma
razão senti vergonha de mim. Por que não dizer? Só pensar, sempre, mas que
mania essa a minha. Censuro-me. Pare com isso, era só um desenho, não tem importância.
Fria novamente? Você não pensou no desenho, admita, não precisa guardar tudo
para si. Cansei, não quero pensar. Dane-se, agora já foi, quem sabe de uma próxima
vez eu não sou mais valente? Só preciso de um abraço, do abraço. Será que isso
você é capaz de fazer, menina orgulhosa?
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Tem valores que não mudam
Acordava cedo, em um quarto
pequeno de apartamento, no meio da cidade grande. Comia fatias de pão integral
com queijo minas, porque tinha que cuidar a alimentação. O achocolatado era light pra ajudar na perda de peso.
Esperava a avó chegar, e iam de mãos dadas percorrendo as ruas cinzentas e mal
cheirosas do bairro.
Entravam no clube e paqueravam os
doces e crepes da feirinha. Não podiam, ambas, comer nada daquilo. Seguiam para
o ginásio, preferiam as escadas ao elevador, e entravam na quadra. A professora
e as colegas já estavam a postos, se alongando, umas ainda por chegar. Calçava
a sapatilha, o que por sinal detestava, e se juntava às outras no chão
empoeirado. Com o passar do tempo as músicas começavam a tocar e a coreografia
deveria estar na ponta da língua, ou no corpo todo, como preferir. Fitas, bolas
e arcos, certo contorcionismo e elasticidade, rostos concentrados, movimentos
que tentavam se ritmar e o orgulho de quem assistia suas pequenas dançarinas
tomavam conta do espaço escuro. Ao final de uma hora, as câimbras começavam e
as sapatilhas surradas ficavam de lado, finalmente.
Já estava em tempo de voltar para
casa, mas não sem antes seguir as ordens da nutricionista e tomar um iogurte de
fruta já envelhecido da geladeira de casa. Mais uma vez os doces eram uma
tentação, mas a barriga maior do que devia, acentuada pelo collant vermelho do
clube, não a deixava esquecer as restrições.
O choro nunca veio e a aparência
nunca foi um problema, muito menos um propósito. E assim a menina gordinha
cresceu, vendo suas amigas desaparecerem debaixo de maquiagem, enfiadas dentro
da academia. Isso também nunca foi um problema. Cada um esconde o que quer, mas
essa menina sabe quem é amiga de verdade.
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