segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fio dental

Eram mil risquinhos? É, eram mil risquinhos compondo a luminária no meio do teto branco de gesso no escritório da doutora bem vestida. Persianas beges, sofá verde claro, tapete de camurça e almofadas floral. Aromáticos e cabideiros, faces perdidas na desilusão da discórdia passada. Resmungos de um lado, verdades do outro, e o tempo passava descontrolado no relógio da parede. Acordai, acordai, desse sonho meramente real, acordai.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cadeira de cinema

Olhos semicerrados, cabelos em chamas, balbuciando palavras de morte aos pés do ouvido de outro. O fervor que me corria desde os pés à cabeça afogava-me na raiva que a ti cuspia fogo. Sangue humano evaporando dentro da própria pele que formiga e desmancha. Uma tesoura imaginária que destroça o teu corpo, queima tua mente e mata o teu eu.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Maçã Dourada

Letras, apenas letras; números, apenas números; guerras, apenas guerras; mortes, apenas mortes; vozes, apenas vozes; rostos, apenas rostos; vidas, apenas vidas; pessoas, apenas pessoas; sentimentos, apenas sentimentos; palavras, apenas palavras; jóias, apenas jóias; flores, apenas flores; amores, apenas amores; dias, apenas dias; textos, apenas textos; roupas, apenas roupas.
Para que tantos valores, se chegamos todos nus?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Icole

Levanta da minha cama e para de reclamar dos laços coloridos apoiados na janela. Não te ofereci tamanha intimidade, nunca tentei te enganar dizendo algo além da verdade. Se parece que liguei uma estufa no meu quarto, foi porque datas não me importam e talvez vocês gostem de me ver ardendo. E por causa também da estação, retire-se imediatamente de meus lençóis ou fará com que queimem antes mesmo de eu poder usá-los esta noite. Agradecida.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Isso tem nome

Advertências, falta de concordância, pensamentos controversos e um grande equívoco. Por mais que fosse de se esperar, os gêmeos não se parecem em nada e torna-se cada dia pior qualquer tentativa de caracterizá-los parecidos. Seria gratificante se, assim, por acaso, se assemelhassem em suas formas de pensamento e manifestação. Como de costume, desejos não se realizam dessa forma e só fazem aumentar uma confusão cerebral já existente em pessoas-incógnitas. Humanos estes, que se dizem extraterrestres, não sabem o tipo sanguíneo, são desorganizados e ignorantes.
Agora, depois de toda uma viagem sem propósitos, explique-me porque nos lembramos de rosas amarelas quando vasos de vidro nos reservam rosas vermelhas sobre a cama? Porque compramos confeitos antes mesmo de sabermos a receita? Porque pedimos cachorros se nem ao menos cuidamos de um peixinho no aquário?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Concordata

O objetivo é fazer-te apaixonar. Justificaria isto o porquê do pacto com o Sol? A missão seria deixar-te bobo, sonhador, alegre e dependente. Sua expressão ao ver o Sol nascer, foi exatamente igual a quando você descobriu a passagem secreta. O brilho surgindo perdido no horizonte é como a chama que surge no teu olhar todas as vezes em que abres a porta de vidro procurando diversão, pega-a nas mãos e a leva contigo pelo caminho.
Sabes que o porquê de todo esse comportamento é apenas nosso acordo com o Sol, certo? Pois bem, tudo isso são palavras de sua bebida mais querida.
Por confesso,

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ataque cardíaco

Sabe quando tem aquela gordura localizada? Mas não a que estamos acostumados; ela estava passeando pelo coração e resolveu ali se instalar. Passou um tempo e nada dela partir. Meu sangue já não era bombeado com a mesma intensidade, e com o passar do tempo a artéria simplesmente se fechou. O sangue não chegava até o final do órgão vital, era como se houvesse uma barreira, e realmente havia. Todo o fluxo precisaria dar meia volta e seguir o caminho contrário, e foi isso que aconteceu.
Senti-me como toda a mistura de Plaquetas, Plasmas, Glóbulos Brancos e Vermelhos, que tentava caminhar e era pulsado em força contrária. Ignorando o fato de o problema aqui presente ser grande, havia um ainda pior. O que acontecia era justamente que na hora de ser regurgitada pela válvula, a impressão era sempre de que o fundo seriam bocas de cachorros ferozes. Sim, era tudo o que eu via.
Queria eu poder compartilhar essas imagens, ou talvez apenas conseguir descrevê-las melhor. Porque ao mesmo tempo em que aquele pesadelo piorava, foi divertido, e, diferente.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mata moscas

Esse melado que escorre da tua boca e transparece em teus olhos, esse aroma de puro açúcar que exala da sua nuca e perfuma toda a tua vestimenta. É o mel que se espalha em sua pele e tenta me tocar. Corrói-me por dentro como que faltando coragem ao sangue para aproximar-se de ti. Sufoca-me e me enoja, como todos aqueles asquerosos amantes compulsivos do amor.
Ó como saúdo a bela e boa distância.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Durex

Cada um no seu canto, quieto, nada pra fazer, e a vontade de estar junto começa desesperadamente a me corroer. Com esse tédio todo o melhor seria deitar e dormir, mas tem aquela inquietação não me deixando fazer jus ao horário que o relógio aponta. Daqui a pouco as ruas vão se agitar, e os pássaros cantar, mas enquanto isso o silêncio é nosso. Até o dia chegar e a madrugada partir, serei sua em pensamento, solidão e monotonia.

Origens

É a música, são as cores, a risada, a leveza, o jeito, a descontração, o estado de espírito carioca me invadindo de repente. Tudo fica mais feliz, mais bobo, mais divertido, mais elegante, mais colorido. Meus olhos internamente mudam de cor e deixam tudo mais inocente, fazem-me enxergar rostos em flores e cantar a cada rajada de vento. Minha mente estranhamente confusa se abana com um leque debaixo da chuva e sorri sozinha de pequenas gafes como beber café salgado. Como é bom tudo isso!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Estuda comigo

 Tudo fica sombrio e triste sem você aqui. A chuva não mais convida a um mergulho na piscina, a noite não mais oferece um passeio pelas ruas, e nada mais me motiva a sorrir. Quero ver a tua canga com fitinhas do Senhor de Bonfim, olhar as flores do seu biquíni e tentar te convencer que não é estampa de senhora, achar teus óculos escuros e lembrar o colorido de sua loja, avistar de longe tua bolsa neon e recordar quando íamos ao centro da cidade com ela. Quero-te do meu lado, porque tudo em você me dá razões pra gargalhar um pouco e traz vida à minha vida. Quero-te pelo menos enquanto ainda aguentarmos nos olhar todos os dias, o dia todo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Parque de diversões

Na tentativa de voltar a dormir, nada além de estouros sou capaz de escutar. Após muito esforço consigo abrir meus olhos. A luz é muita; difícil enxergar. Quando à claridade me acostumo, finalmente posso identificar o que me rodeia.
O céu está em um belo azul, algumas nuvens brancas terminam de compor o paraíso. Bolhas se sabão estouram pelo ar, balões coloridos flutuam contentes. E da grama molhada eu não consigo me levantar. Os fatos começam a fazer sentido e formar uma bela história, não deverias ter ido embora ao amanhecer. A noite foi longa, eu sei, mas não precisavas partir ao nascer o sol.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Manter refrigerado

Uma louca sofrendo falsos problemas amorosos insiste que deve sair durante uma noite chuvosa para afogar as mágoas na piscina. Ali ela age como uma criança, dança sozinha, escuta os pingos de chuva e reclama sob a baixa luminosidade que os postes de luz oferecem.
Parece que já vi esse filme antes, mas tudo parecia mais frio e triste. Provavelmente porque essa louca não tinha ninguém ao seu lado para incentivá-la a quebrar regras, fazê-la rir e não deixá-la chorar.
Talvez voltando àquela piscina, a resposta que antes não foi obtida estivesse ali esperando... É, pode não ser uma má ideia para a madrugada insuportável que está por vir.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cabelos ao vento

Sabe como é a sensação de lembrar, mas não recordar? Ter um filme em perfeito movimento passando por trás dos olhos e não conseguir imaginá-lo real, por mais que tenha sido; também me parece uma dúvida.
Saber que foi bom me satisfaria se eu não fosse curiosa. Minha questão é conseguir identificar no tempo o que escreveu isso na parede, para que eu não esqueça nunca quando acordar.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Caixa de correio dá as boas vindas

Que se abram os vidros e me deixem pular deste penhasco para longe das cortinas amarelas! Nem que seja preciso quebrá-lo com a brutalidade que não possuo, achá-la-ei de alguma forma. Não me importarei se para destruí-lo eu acabar por obter feridas e cortes violentos. Necessito somente um pouco de frescor azul e vento verde, adrenalina branca e recompensa laranja. Por favor, eu só quero ter estas belas flores vermelhas sob meus pés sem pisá-las e poder ultrapassar o limite das janelas, fugindo assim, da prisão de estantes brancas e panos cor de ovo que cobrem o único meio pelo qual ainda me mantenho respirando.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Perdi o celular

Se eu pudesse agradecer, com certeza agradeceria, mas você parece nunca querer concordar que fez a coisa certa. De qualquer forma, saiba que as risadas daquela noite ainda ardem em mim e vez ou outra me pego relembrando aquilo tudo.
Tenha certeza de que o café com leite que me serviram não estava lá grandes coisas, e muito menos o pão que levamos devia estar. Provavelmente seu refrigerante às sete horas da manhã estivesse bom, mas apesar do sono que bateu com toda aquela monotonia das avenidas, madrugar à beira-mar contigo foi único.
Tentamos crescer e sermos mais independentes, mas talvez não devêssemos. Quem sabe quando essa vida vai acabar não nos dirá as coisas que precisamos aproveitar. Pois bem, os ônibus e as ruas não eram aqueles aos quais eu estava acostumada a observar, mas se o tal bombom não houvesse ousado se deitar debaixo do banco, as lembranças seriam muitos melhores.
Diga-me, por favor, que você gostou de ir à praia. Chatearia-me se não tiver sido de seu agrado. A areia estava tão, tão areia, que eu não saberia descrever. O mar podia não estar belo ao começo do dia, mas se arrumou um pouco ao passar do tempo, não acha? Estive pensando a respeito de cuidarmos um pouco mais nossa beleza, mesmo que eu não me importe nada com esse tipo de coisa, mas você percebeu que estamos devendo uma leve dedicação não foi? Espero que eu esteja errada agora e volte a calcular normalmente o mais rápido possível, porque maquiagem e cuidados eu não gosto.
Bem, não esqueça que eu pedi pra você largar o livro e entrar naquela sala, mas quem recusou foi a mesma que passou 40 minutos ao telefone. E muito, muito obrigada mesmo por me deixar calada durante mais um tempo.
Eu te amo muito – precisava dizer isso? Acho que você já sabe há um grande período de tempo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Em forma de guitarra

No começo era assim; meu mundo havia se transformado em renomadas bandejas de cupcakes enfeitadas com mini presentes verde-água e rosa claro.
Tudo continuava igual, sem importar a direção que meus olhos observassem, ou mesmo o lado para o qual eu seguisse correndo desesperada e involuntariamente.
Mas com o tempo os cupcakes deram lugar às poças de sangue de um coração esquecido mais adiante. Ele começou a bater forte, em ritmo acelerado; ardia em chamas e tinha alucinações. Ali, sem mais nem menos, ele parou e permaneceu como estátua. Ou quem parou fui eu, e ainda não tive forças para me levantar de onde permaneço desde certo dia.