sábado, 29 de janeiro de 2011

Bola de praia

O que eu desejo? Na verdade agora só falta eu ser a bolinha de gordura construindo castelinhos de areia. É, toda molhada e com cara de quietinha, sentada na beira do mar. Faltavam-me pessoas caminhando de biquíni, bolas correndo de pé em pé e bolinhas de frescobol sem tocar o chão. Mas consegui finalmente dar conta de envolver tudo isso em minha rotina novamente.
Sabe quando o castelinho dá errado e a desculpa é dizer que era um bolo? Então, o verão é assim, de castelo vira bolo, e, se conseguires resolver, ele há de transformar-se num palácio de cristal que ninguém bota defeito. O meu pelo menos parece inquebrável.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A caneta também acabou

Ontem; adormecido na gaveta da velha escrivaninha, envolto por mofo e poeira, longe da brisa do mar e do aroma das flores.
Hoje, andando por aí afora, nas estradas desse mundo, vendo o Sol, sentindo as nuvens, mergulhando no rio e fotografando a areia. Tonteado pelas voltas que a Terra dá, ainda mantendo as linhas retas. Andou tomando alguns caixotes, mas sempre levanta e segue a planejar seu novo destino de viagem.

Alcoolicamente envenenada

Caminhando já sem direção, enrolando-se com palavras e versos que tenta pronunciar, nem mais o andar consegue controlar. O numero quatro se faz torto e a dor não é mais sentida. Correndo sobre as pedras e pulando até um poço mais adiante, ela segue em zig-e-zag na força que lhe permitem.
Cambará do Sul, Brasil
26/01/2011

As libélulas também

Não violetas azuis; borboletas violeta com azul. E a graciosa borboleta, que não era duas nem três, se apresentava à minha camisa cor de talco e ao tênis, que de branco estava terra. Pura, pequenina e majestosa; pelo alto do cânion ela voava, entre a grama verde, a terra preta e o início da cerração que começava a subir. Era linda a borboleta. Alegre e contente, mais parecia o final do sorriso sincero de alguém que por ali passou. Como se não houvesse forma de superar a beleza, gargalhadas ali deixadas faziam brilhar o Sol, prestes a nos tocar. E o céu respingava cores, mais contentes impossível, em tons laranja, verde e rosa, querendo contrastar com o azul e amarelo que ali estavam; formando o mais belo arco-íris sob a água que descia ferozmente o abismo ali presente.
Cânion da Fortaleza, Brasil
25/01/2011

O elefante é sagrado na Índia

É uma pequena colina bastante extensa. O gramado está verde e os poucos arbustos terminam de decorar o terreno.
Olhe esta nuvem! Aqui, exatamente na nossa frente. É uma tromba de elefante, não parece? E a cabeça são bolas de sorvete. Rápido! Vejam só, ele está pensando!Observem as nuvenzinhas subindo de sua cabeça!
Ó, um sorvete pensante; mas que dádiva. Que forças maiores não permitam derramarem calda de morango, eu desejo.
Vacaria, Brasil
24/01/2011

Tempos atrás

As luzes coloridas que nas ruínas dançavam me ensangüentaram e adoeceram a visão. Sob o céu estrelado, Três Marias e Cruzeiro do Sul compartilharam do momento de mesmas guerras sonoras que meu corpo avistou.
E essas histórias de guerra me fizeram tirar da memória, as imagens que a luz do Sol ajudou a capturar. Eram belas as fotografias que atirarei ao fogo para negar à mente os combates que um dia se pode ver.
São Miguel das Missões, Brasil
23/01/2011

A gente; eu; você

Eu rio. Nós rimos. Você ri? Eu rio. Acho que nem tem tanta graça assim, mas era engraçado. Você lembra? Eu lembro. Lembro e rio. Era divertido. Você gostava? Era bom, eu gostava. Era delirante. Você delirava? Eu não delirava. Eu sonhava. Você sonhava? Eu vivia. Você também vivia? Eu nunca te deixaria viver sozinho.
Tacuarembó, Uruguay
22/01/2011

Dançantes

A música toca em tom de “final de mais um verão inesquecível”. De um lado a cidade toma sua forma noturna, de outro, o Sol deita sobre seu leito nas águas do rio. Cercados pelo parque de diversões, os passarinhos continuam a cantar delicadamente em belos timbres de voz. Uma pequenina e branca bolinha de golfe atravessa montes de folhas que pela rua se espalham; desce um pequeno morrinho e, retirando a atenção de frenéticas máquinas fotográficas; percorre a longa avenida, que no momento se parece com alguma outra cidade bastante conhecida; escorrega em algumas poças da chuva de ontem e, tinindo em generosidade e beleza, toca a porta do maior prédio das redondezas; de onde assiste contente, do alto do monte de concreto, o pôr-do-sol mais espetacular que já vira.
Montevideo, Uruguay
20/01/2011

Feno e Melancia

Escrevi na mão tudo aquilo que não deveria esquecer e não me foi necessário muito espaço. Passei a limpo com minhas letras confusas em vários papéis de carta. Português, inglês, espanhol e alemão; uma gelatina multicolorida que viajou no caminhão do vovô. Pela estrada, em meio ao vento e casinhas de madeira, corria um perfume pelos ares. O tal aroma fez sorrir continentes. Continentes estes, de uma mente contente pedindo risadas sinceras.
Paso de los Toros, Uruguay
21/01/2011

Catarata do Pingo D'água

Não tenho mais motivos para viver, o meu mundo desabou sobre mim. Tudo o que eu tinha se foi, e já não me resta motivação. Minha respiração se faz com dificuldades, a força para falar é extrema. Minha visão se vai embaçada nos muitos momentos de prantos que transformam meus olhos em rios transbordados. O sangue que bombeava em mim perde cada vez mais a força. – disse a menina ao telefone. Mas enquanto se dizia chorar desesperada, apenas uma lágrima caiu; esta lágrima chorosa e completamente mentirosa.
Calle de los Suspiros, Uruguay
19/01/2011

Sorvete de Baunilha

Era uma igrejinha branca, onde uma vez perdida eu observava. Sem muitos enfeites e frescurites, foi um santo com caveira na mão que me prendeu a atenção. Em tons neutros de marrom e creme, expressões lhe faltavam. Dentre todos os banquinhos de madeira e uma estatueta de ouro, dentre paredes brancas e janelas sem vidraça, dentre esculturas angelicais e um teto sem pinturas, dentre toda uma cultura que não me pertence, aquela caveira se mostrava superior a qualquer suposição que eu ousasse fazer. Parecia, talvez, querer dizer algo, mas só fui capaz de observar.
Colonia del Sacramento, Uruguay
18/01/2011

Palavras não bastam

Hoje acordei com vontade de dizer que te amo.  Há muito tempo não digo, mas é enorme o meu amor por ti.
Palavras me sobraram hoje, vontade não me faltou, mas a coragem e a voz chegaram tarde demais. Termino o dia, mais uma vez, deixando a desejar. Por covardia, vergonha e qualquer outro substantivo que me desmereça.
Punta Del Este, Uruguay
17/01/2011

Vontade não me falta

Quero falar-te, mas não posso. Quero mostrar-te, mas não consigo. Quero escrever-te, mas não sou capaz.
Quando, um dia, o mundo me oferecer palavras para explicar-te, explicar-lhe-ei então. Mas enquanto dias de glória não vem, procuro me refugiar em teu abraço sem entendimentos.
Se algum dia palavras eu lhe direcionar, procure entender, por mais difícil que possa ser. Saiba que eu me esforço pra dizer.
Piriápolis, Uruguay
16/01/2011

Cor de Sol

Cor de ovo, cor de areia, cor de ouro. Explosão de amarelo, exuberante, elegante. Um círculo; uma esfera; uma bola; um redondo brilhantemente amarelado que se esconde no céu de azuis cianóticos.
O Sol que se põe, silencia os barulhentos, esfria o calor. Faz doer o indolor, faz sarar o incurável. E nessa vida que se distorce em variáveis, tudo tem um fim, tudo tem uma parada, tudo tem um corte que não se cicatriza; todo pôr-do-sol traz consigo sons permanentemente impertinentes.
Casapueblo, Uruguay
15/01/2011

Nanquim

Ao longe vejo a tinta da caneta borrar o papel, vejo uma lágrima cair e aquarelar as palavras. Vejo letras flutuarem e se embaralharem sobre nuvens-linhas rosa.
Ao longe vejo as cores do pôr-do-sol em tom de terra seca cobrir a parede, vejo as flores se pintarem no cantinho da janela, e os passarinhos que na tinta mergulharam, agora pousam sobre os galhos do cabideiro.
Cabo Polonio, Uruguay
14/01/2011

Caminho errado

A estrada ficou para trás e ao longe eu te observava. Cada vez mais distantes; você ainda me acenava. Tudo o que aconteceu eu havia decidido esquecer, mas era mais forte do eu. Foi como a correnteza de um rio, que me impedia de avançar; foi como a bravura do mar, que não me deixava continuar; foi como uma lágrima, solitária e triste, escurecendo minha visão e escorrendo por minha face.
Dei meia volta e fui ao teu encontro. Estaria você me aguardando depois da curva?
La Paloma, Uruguay
13/01/2011

Dobradura de papel

Quero capturar o vento, tê-lo em mãos e mostrar-te a bravura do mesmo. Gostaria que pudestes ver o vento que não vistes, sentir o vento que não sentistes, provar do vento que não provastes. Queria mostrar-te a coragem e a força, a ternura e o carinho, deste grande pequeno menino.
Barra de Valizas, Uruguay
12/01/2011

Reflexo invisível

Nunca foi tanto o meu amor. Nunca foi tão grande a saudade. Nunca foi mais longa a distância. Nunca foi tão imensa a minha dor.
A cada dia que passa, conto os minutos e segundos para poder te ver, te abraçar, te beijar.
Quero olhar em teus olhos e dizer que agora, mais do que nunca, com todas as letras, sentidos e significados, eu te amo!
Chuí, Brasil
11/01/2011

Açucarado

Esse algodão doce fica me chamando. O - quero provar, apreciar um pedacinho desse céu em tom de azul provocante. Será que é bom? Tanto faz, eu quero.
As nuvens brancas me atraem; são belas e puras, estão distantes e impossíveis.
Rio Grande, Brasil
10/01/2011

É carnaval

Estranha sensação de festa você causa em mim. Sentimentos mascarados, confete e serpentina espalhados pelo estômago, marchinhas me arranhando a garganta, uma enorme fantasia cerca meu irreal. Carros alegóricos levam meu coração; basta você esperar no final da Sapucaí.
Mostardas, Brasil
09/01/2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Passa, passa passatempo

Uma rajada de vento frio passou, uma gota de chuva caiu, e uma pedra de gelo ao meu lado se instalou. As pessoas calaram-se aos poucos, o Sol sumiu e reapareceu algumas vezes, os ponteiros do relógio rodopiaram sem parar. Olhei para o lado e tudo o que havia era neve.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sistema

O garoto conquistou o coração da doce menina; eles se abraçaram e se beijaram e todo o resto mais. Acharam que estavam apaixonados, tinham sido feitos um para o outro, verdadeiras almas gêmeas. Não gostaram de toda essa historinha de amor, decidiram plantar batata e morar em um pequeno casebre de palha. Enfim, foram felizes para sempre. Fim.